Danças urbanas

HISTÓRIA

As danças urbanas originaram-se nos Estados Unidos, tem seu termo utilizado pelos americanos porque não veio do meio acadêmico, surgiu do povo, das festas de quarteirão. O termo streetdance (dança de rua) também é usado, por apresentar os diferentes estilos da dança, conhecidos como Funk, Locking, Popping, Breaking, Hip Hop Freestyle, House Dance, e Krump, assim como as suas subdivisões.

Outras vertentes dizem ter se originado na época da crise econômica dos Estados Unidos, na década de 20, quando músicos e bailarinos dos cabarés, desempregados foram para rua fazer seus shows. Outro viés descreve a dança com alusão aos soldados que voltavam da guerra do Vietnã “quebrados” ou a crítica social ao expressarem movimentos robóticos que significavam a substituição do homem pelas máquinas.

Na década de 30 e 40 houve influência do blues e soul trazidos pelo negros que migraram das fazendas do sul dos EUA para o centro. Em 60 a influência foi James Brown, com o funk.

Cabe aqui esclarecer que existe o hip hop cultura, hip hop music e hip hop dance, são três manifestações diferentes que estão ligadas. A Cultura hip hop traz o grafite, o break (b.boyng), o MC (rap) e o DJ, os quatro elementos, a música hip hop vem da cultura hip hop, a dança hip hop porque é dançada na música hip hop, surgiram uma da outra, mas não são a mesma coisa, a dança hip hop (freestyle) é diferente do break, que é dançada com no break beat da música funk.

Locking
 é uma dança clássica catalogada como a primeira dança urbana, criada na cidade da Califórnia e caracterizada por movimentação rápida dos braços em música funk, assim como movimentos de “travar” os joelhos, produzindo a impressão de uma ruptura, congelando em certas posições e depois continuando rápido como antes. O dançarino conhecido como locker interage com o público sorrindo, apontando os dedos e batendo palmas, podendo ou não se caracterizar como naquela época, fazendo uso de boinas, coletes, suspensórios e meiões. Foi inventada por Don Campbell no programa americano Soul Train.

LOCKERS IN SOUL TRAIN

Em 92 surgiu um estilo chamado drunk, mais gangster, crazy (louco). Um jeito de dançar com ritmo mais rápido, uma vertente do rap mais agressiva. É caracterizado por movimentos livres, expressivos, de improviso, raramente são coreografados. Praticados em batalhas envolve certo grau de agressividade e contato físico. Também conhecida como dança do palhaço, por fazer uso de pinturas faciais.

Break
“A dança break é como se fosse o tronco de uma árvore e a partir deste tronco fossem surgindo outras danças com ramificações como o top rock, up rock, foot work, popping, hip hop freestyle, house”

A dança break nasce na cidade do Bronx entre jovens afro-americanos e latinos influenciados pela música funk e por músicos da época, queriam dançar e como não possuíam recursos para frequentar clubs, acabaram indo para as ruas. Tinham a influência da salsa, das danças de salão latinas, dos filmes do Bruce Lee. Nesses encontros usavam rádios a pilha chamados boombox, que hoje podem ser vistos em vídeos antigos de rap, começaram a criar movimentos, construir um vocabulário próprio, expressado através de cada passo e da vestimenta.
Boombox

Os jovens da cidade de Bronx perceberam que jovens do Brooklyn, apesar de fazerem a mesma dança, utilizavam passos diferentes, chamados up rock, que era a soma de movimentos de ataque e defesa simultâneos feitos por mais de um dançarino. Começaram então a introduzir movimentos de luta nos quais eram possíveis rolar pelo solo e tomar uma postura em pé novamente. Assim o top rock inspirou a criação do foot work (trabalho com os pés), caracterizados por movimentos circulares feitos com apoio das mãos e dos os pés ao mesmo tempo, acompanhados pelo ritmo da música.
Ainda acharam que não era o suficiente, já existia o top rock, o foot work e como estavam batalhando faltava alguma coisa começaram a criar os stencils e os freezes, poses mostrando seus estilos, faziam essas poses sempre no final de um foot work. Com o tempo foram acrescentados movies que são movimentos de grandeza, os giros, os fleurs, os moinhos, movimentos da ginástica olímpica, da capoeira para dar brilho.

No final da década de 60 o DJ (Disc Jockey) jamaicano Kool Herc fugido das guerras civis do seu país chega aos EUA, na cidade do Bronx, trazendo as Block Parties(festas de quarteirão), assim como os Disco-mobiles(discotecas ambulantes).
Nas festas Herc criou um jeito de trabalhar com os discos, ao invés de ter um toca disco ele usava dois, num ele tocava a música e no outro arranhava os discos, dava aquele efeito no disco enquanto a música ficava tocando, fazia o efeito combinar com a música de maneira melódica, rítmica.
Dj Kool Herc
Kool Herc costumava pegar o microfone e anunciava o desempenho dos jovens que dançavam nos intervalos da música break, quando tocava o break beat eles entravam nas rodas e executavam as performances que já faziam nas rodas de papelão na rua. Isso começou a chamar atenção de Kool dando nome aos dançarinos da breakdance de Bboy e Bgirl, B utilizado para Break, Bronx ou Broklyn. Break não era uma dança feita á toa, tinha a força do DJ construir aquela batida para eles dançarem. O DJ era o próprio MC (Mestre de Cerimônia) animando a festa, falava com o bboy e a bgirl o movimento que eles estavam realizando e isso dava mais força para a dança ficar popular.

Nos bairros do Bronx e Broklyn existiam turmas chamadas de crew, que brigavam por disputa de territórios, faziam seu grafite na parede, vinha outra crew e fazia outro por cima, para mostrar “esse território é nosso, tem que estar com o nosso nome” e as brigas começavam, havia crew de grafite, depois viraram crew de dança, dançavam para disputar e conquistar território, quem perdesse não ocuparia mais aquele lugar.
“Uma rivalidade conhecida era da New York Street Breakrs X Rock Steady Bull, disputa tão famosa que ao lançarem o filme Beat Street era contada a história dessas duas crews. Existe uma cena em que os NYSB estão com uniforme azul e o RSB com o uniforme vermelho listadinho da Adidas, eles realizam essa batalha num clube. É uma das principais cenas do filme e foi uma das primeiras cenas de batalha de dança”.

“África Bambaataa, DJ, nascido e criado no Bronx pertenceu a uma das gangues mais temidas, chamada Black Spades”, juntamente com Herc contribue para que “as gangues tirem suas diferenças através da dança, disputas dançantes que ficaram conhecidas como “batalhas de break”, onde um dançarino “quebra” o outro no sentido de dificultar a movimentação nas batalhas dentro das Block Parties. “

Desse modo a improvisação e o humor foram elementos que se consolidaram nesse estilo das danças urbanas. O desafio e a provocação também eram utilizados pelos praticantes da dança como uma forma de duelo, uma batalha de movimentos. Nem sempre havia um vencedor ou a preocupação com que houvesse. O interessante era o jogo entre os dançarinos, um jogo de pergunta e resposta em que o movimento é o vocabulário utilizado.
Em Nova York aconteciam os quatro elementos simultaneamente, o grafite, DJ, MC e o Break. As crews de grafite batalhando nas Block Parties e os DJs animando as festas, esses artefatos estavam cada vez mais unidos, parecendo uma coisa só. Bambaata e Herc resolveram dar um nome para esta manifestação cultural que estava acontecendo de hip hop, traduzindo seria hip mexer e hop quadril.
A dança break foi trazida pela elite brasileira que viajava para os Estados Unidos e a praticava nas casas noturnas badaladas. Nelson Triunfo, foi quem a trouxe de volta às ruas. O Funk & Cia passa a excursionar divulgando a nova dança, nos anos de 76, 77, 78. O sucesso conquistado pelo grupo propiciou sua participação na abertura da novela “Partida Alto”, exibida pela TV Globo, em 1984.




Boogaloo Sam foi o criador da dança popping, tinha um grupo chamado Electronic Boogaloo Lockers, dançavam locking inspirados no “The Lockers”, com a música mais cadenciada e a caixa mais evidente, toda vez que Boogaloo contraia seus músculos ao realizar suas performances dizia pop, pop para dar a noção de explosão como uma pipoca, passando o grupo a chamar-se Electric Boogaloo. 


A dança popping acabou por influenciar outros tipos de danças que incorporam seus movimentos como a dança waving, que são ondas pelo corpo e se enquadra no perfil popping, assim como os movimentos robóticos.
À medida que o tempo foi passando a batida da música hip hop foi ficando mais marcada, vieram outros recursos, houve aumento na a qualidade dos produtores musicais e ritmos diferentes foram surgindo. As danças sociais começaram a fazer parte de vídeos clips, dando um novo vocabulário para os dançarinos, que começaram a quebrar os passos e os movimentos. Foram tendo influência do locking, do popping, do break e principalmente das danças sociais e começaram dar forma livre para o corpo, criando a dança hip hop freestyle.
O grupo pioneiro é o Elite Force Crew (Budda Stretch), no Brasil o grupo considerado precursor é o Back Spin Crew criado em 1985 na São Bento em São Paulo.



O wacking dance surgi nos clubs gays, é uma dança dos anos 70, porém considerada nova, pois vem sendo estudada nos últimos anos. Traz referência do locking, executando movimentos de grandeza, com aspecto feminino.
“O wacking é uma dança que está em evidência, tem influência do jazz, movimentações de pernas, ângulo dos braços, é dançada com música funk, música disco, existem poucas pessoas que dançam, no Brasil Juju Ramos, Dança e sabe o que faz.






A dança house considerada dança de salto, se diferencia muito de todas as danças urbanas. O funk tem uma energia jogada, pulsando para cima, o house surgiu com o feeling para baixo, outra pulsação, outra influência. O movimento é executado para cima, enquanto o corpo está descendo, trabalha com muita movimentação de pernas. Não tem a história de um criador, surgiu em clubs, cada um dançava de um jeito, foram surgindo passos e vieram os improvisos assim como nas danças sociais. Mop Top e Elite Force Crew foram os grupos de dança precursores a levarem o house para o palco.

MOP TOP

Na década de 80, os filmes de breakdance (Flashdance, Beat Street, Breakdance I e II) e vídeos clips chegam ao Brasil e acabam influenciando os jovens das periferias urbanas, ao se identificarem com as cenas de exclusão social, racial, violência policial e a realidade das gangues. A vestimenta também passa a exercer influência. Outros filmes que marcaram foram “No balanço do Amor; Honey: no ritmo do seu sonho, Entre nessa dança: hip hop no pedaço e Vem dançar”

(No balanço do Amor - completo)

(Honey: no ritmo do seu sonho - trecho)


(Entre nessa dança: hip hop no pedaço - final)


(vem dançar - completo)

Nos anos 90 Nelson Triunfo integra-se ao projeto da “Casa do Hip-Hop de Diadema”, com o propósito de retirar jovens da rua, desenvolvendo atividades estimuladas pelos elementos do Hip Hop.
As apresentações em show e o início dos concursos e festivais acabaram por aproximar a dança de rua dos palcos e academias.
Em Janeiro de 1991, foi criado na cidade de Santos, o primeiro curso de “Dança de Rua” no Brasil, pelo coreógrafo e bailarino Marcelo Cirino, baseado em trabalho prático e de pesquisa, desde 1982. Formou um grupo de dança amador que se tornou profissional, tendo como primeiro nome Grupo de Rua de Santos e hoje Grupo de Dança de Rua do Brasil. Iniciou com bailarinos que possuíam treinamento acadêmico, movimentação e deslocamentos de jazz no palco, executando uma dança com força, energia, expressão fechada, que caracterizavam a dança de rua.




Frank Ejara, em 1992, fez parte do primeiro grupo profissional de Street Dance no Brasil, projeto que envolvia dançarinos, MC’s, DJ’s e designers de moda. Começa então a desenvolver um estudo sobre as origens e fundamentos das danças Breaking, Popping, Locking.
Seu aprofundamento transforma as danças no Brasil, trazendo mais conhecimento surge uma nova geração de dançarinos, conquistando respeito e reconhecimento internacional. Em 1999, cria a Cia. Discípulos do Ritmo. Foca seu trabalho nos teatros e na dança de forma profissional, conquistando um espaço que era exclusivo do ballet e da dança contemporânea.


Nenhum comentário:

Postar um comentário