Hoje é dia de ... refletir!
Em um sábado a tarde a sua programação é visitar um asilo com uma equipe da igreja. Assim o faz, se prepara, convida a Deus para estar junto de vocês e segue o que foi combinado. Não é de se espantar que ao chegar lá encontre alguns velhinhos, afinal lá é onde ficam por não poderem mais cuidarem de si mesmos sozinhos e por não terem quem possa fazê-lo.
Ali, um olhar lhe chama muito a atenção. Alguém que comemorava seu aniversário, pois ao final de cada mês tem uma festinha preparada para os que o fazem. Pois bem, esse mês era o seu, e de mais algumas também, mas esta, apenas esta, fazia 104 anos de idade, talvez seja a pessoa mais velha que já tenha visto. O olhar dela é profundo, mas nem tanto se comparado às suas palavras. Ah! As suas palavras...foram elas que marcaram o seu dia. Se por algum momento teve dúvidas sobre a simplicidade, ali estava toda a explicação de que precisara.
Após alguns momentos de conversa, algo sobre 12 filhos, alguns netos, bisnetos e claro, tataranetos, eis o que te marcaria para sempre. Ela te olha e diz: "Eu tenho tudo aqui, tenho mais de 15 vestidos, contei hoje e escolhi o mais bonito, ele tem roxo não tem? É que eu não enxergo direito". Depois disso ela ainda finaliza com um sorriso, o que acaba ainda mais com qualquer sentimento de soberba que possa existir dentro de você. Claro que você não demonstra isso na hora e retorna o sorriso a ela gentilmente dizendo que o vestido é muito lindo e que tem roxo sim, claro. Depois de algumas boas histórias o assunto acaba, mas você nunca mais será a mesma.
Eu vivi isso, exatamente isso! Era a minha primeira vez na escala de visitas, é claro que eu sabia que ia ter experiências e já estava ansiosa para isso, e eis o presente que ganho. Aquela conversa e aqueles olhos não saem da minha mente, quanto tempo de vida aquela mulher tem! Não me lembro de conhecer alguém que ganhe dela, se assim posso dizer, é a mulher mais experiente que já conheci na vida!
Que belo "sermão" ela nos ensina. Será que fazemos o mesmo? Dizer com tanta certeza que temos tudo o que precisamos ter? 15 vestidos é um belo número, não? Nem sei se tenho essa quantia, devo ter ou quem sabe até mais, isso na verdade não é o foco, a questão é, estou contente com o que tenho ou sempre quero mais? Respondo por mim, não adianta mentir, o impulso motivado pelo consumismo nos domina, nunca estamos satisfeitos. Se temos 15, 20 ou mais, quem sabe? Na verdade nunca paramos para contar e o que isso importaria? Importa mesmo é que saiu um novo modelo, esse está na moda, agora não inverno vai ser o máximo, e na primavera então...e quando chega o verão...assim se segue e nunca ficamos contentes.
Há poucos dias estive pensando sobre a simplicidade, lendo algumas coisas, descobri que um matemático e administrador alemão chamado Helmar Nahr, disse que a "simplicidade é a coragem de abordar o essencial." De fato estamos perdendo esta coragem, podemos até dizer que o essencial agora é ser extravagante. Nosso coração tem se corrompido com tantas coisas, tantos problemas, tantas dificuldades que acabamos por se tornar pessoas insaciáveis.
Andando alguns dias atrás, ainda no cair do verão, vi algumas crianças em uma pracinha brincando de rolar pela grama. A alegria e o entusiasmo daquelas crianças me fez sonhar um pouco acordada. Que grande simplicidade há naquela brincadeira, nenhuma tecnologia avançada, nenhum gasto absurdo, mas um prazer imenso. Só poderia ser coisa de criança mesmo, pensei. Um adulto ali só poderia atrapalhar tudo, no mínimo, uma mãe super protetora recomendaria ao filho que parasse pois poderia ter alguma pedra, inseto, ou um buraco e que ele poderia se machucar com qualquer uma dessas opções. Uma criança "um pouco maior" - adolescente, negaria a brincadeira justificando vergonha, pensando o que os outros pensariam a seu respeito. Nós? Melhor nem comentar. Não temos tempo. Quem fará o jantar? Lavará a roupa, a louça, o quintal...e tanto outros afazeres que nos prendem todos os dias. Mas e a vida simples onde foi parar? O sorriso com o pouco, a alegria pelo tudo que temos?
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